Com o PlayStation 6 já batendo na porta, uma pergunta ecoa cada vez mais forte entre os jogadores: será que realmente houve uma grande evolução do PlayStation 4 para o PlayStation 5?
É inegável que o PS5 trouxe melhorias técnicas importantes — carregamentos quase instantâneos, gráficos mais refinados, ray tracing, taxa de quadros mais estável. Tudo isso está lá, funcionando. Mas, olhando com mais atenção para o que realmente interessa, que são os jogos, surge uma percepção desconfortável: a sensação de que estamos jogando mais do mesmo.
Grande parte da biblioteca do PS5 é composta de remasters de jogos do PS4 ou remakes de títulos do PS2 e PS3. E, querendo ou não, essa tendência levanta uma discussão válida sobre o que de fato significa viver uma nova geração.
O problema não é o hardware, são os jogos
O PlayStation 5 é, sim, uma máquina poderosa. Carregamento rápido com SSD, gráficos lindíssimos, suporte a 4K, tecnologias como ray tracing e áudio 3D realmente fazem diferença na imersão.
Mas não dá pra negar: seu catálogo é, na maioria, uma extensão do que já existia no PlayStation 4.
Basta olhar os principais lançamentos da geração atual:
- The Last of Us Part I: um remake do jogo de 2013 (que já tinha remaster no PS4).
- Demon’s Souls Remake: um jogo do PS3, agora com cara de nova geração.
- Spider-Man Remastered e Miles Morales: jogos originalmente feitos no PS4, com melhorias gráficas.
- Uncharted: Legacy of Thieves Collection: nada mais que um pacote de remasterizações dos títulos do PS4.
- GTA V: sim, estamos falando de um jogo que nasceu no PS3, passou pelo PS4 e agora vive no PS5.
E a lista continua. O que vemos, de fato, são jogos que carregam a identidade das gerações anteriores, apenas repaginados para parecerem mais modernos.
Remakes e remasters: evolução ou reciclagem?

Existe uma linha muito tênue entre preservar clássicos e depender excessivamente deles. É claro que é incrível revisitar jogos como Resident Evil 4, Final Fantasy VII ou Demon’s Souls com gráficos modernos e gameplay atualizado.
Por outro lado, isso também evidencia uma realidade incômoda: a nova geração não está entregando a mesma quantidade de experiências verdadeiramente inéditas que vimos no salto entre o PS2 e o PS3, ou entre o PS3 e o PS4.
O PS2 foi uma explosão de criatividade. O PS3 trouxe a consolidação dos mundos abertos e narrativas cinematográficas. O PS4 expandiu isso, popularizando a experiência single player de alta qualidade, com gráficos avançados e gameplay fluido.
E o PS5? Até agora, muito mais focado em polir o que já foi feito do que criar algo realmente novo.
A pandemia explica? Em partes, sim.
É fato que o desenvolvimento de jogos sofreu com a pandemia. Produções foram atrasadas, cronogramas desmoronaram e a indústria inteira precisou se adaptar. Muitos dos projetos que deveriam ser exclusivos da nova geração acabaram saindo também no PS4 para não perder base instalada.
Por isso vimos títulos como Horizon Forbidden West, Gran Turismo 7 e God of War Ragnarok sendo lançados tanto no PS4 quanto no PS5. Na prática, isso segurou o desenvolvimento de jogos que poderiam, de fato, usar todo o potencial do PS5.
Mas até que ponto essa justificativa se sustenta, agora que a pandemia ficou para trás?
O PlayStation 6 já se aproxima… e fica a dúvida
Se o PlayStation 6 já está no horizonte, o questionamento que surge é inevitável: será que a indústria vai repetir esse ciclo?
Vamos viver uma nova geração marcada novamente por remakes, remasters e atualizações de títulos que nasceram no PS4 e no PS5? Será que os consoles estão deixando de ser plataformas para inovação e se tornando apenas vitrines para revisitar o passado com gráficos melhores?
Não é só crítica. É uma reflexão sobre o que esperamos
É claro que não dá pra ignorar os avanços técnicos. O que jogos como Ratchet & Clank: Em Uma Outra Dimensão, Returnal, Demon’s Souls Remake e Horizon Forbidden West fazem em termos de qualidade gráfica, velocidade de carregamento e estabilidade é simplesmente impressionante.
O problema não é a qualidade. O problema é que, até agora, a quantidade de experiências realmente novas e únicas, feitas pensando exclusivamente no PS5, é muito pequena.
Existe potencial. Existe poder de hardware. O que parece faltar é ousadia da indústria em dar passos maiores, como acontecia nas gerações anteriores.
Uma geração de transição que virou padrão?
Talvez a grande verdade seja essa: o que antes era visto como “geração de transição” — aquele período em que jogos saem para os dois consoles — virou o padrão. Com desenvolvimento cada vez mais caro, as empresas preferem apostar no seguro: trazer de volta jogos que já deram certo.
Isso garante retorno, diminui riscos e agrada tanto quem quer revisitar clássicos quanto novos jogadores que nunca tiveram contato com esses títulos antes.
O que esperar daqui pra frente?
Com o PlayStation 6 se aproximando, o desejo da comunidade é claro: queremos inovação de verdade. Queremos jogos que façam jus ao salto de geração, que tragam experiências impossíveis de viver nos consoles anteriores.
Queremos aquele sentimento que tivemos quando vimos pela primeira vez GTA San Andreas no PS2, The Last of Us no PS3 ou Spider-Man no PS4. Queremos que a nova geração seja, de fato, uma nova geração.
E talvez esse seja o maior desafio da indústria nos próximos anos. Porque, se continuarmos presos ao passado, com remakes e remasters sendo o centro da geração, corre-se o risco de transformar o avanço tecnológico em algo puramente estético, e não em algo que mude de fato a forma como jogamos.