Tem lembrança que não envelhece. Não importa se você tem hoje 25, 30 ou 40 anos — se um dia foi rato de locadora, isso tá gravado na sua memória com o mesmo carinho de um save do Final Fantasy X. Porque não era só sobre jogar. Era sobre pertencer.
Quem viveu os anos 90 e 2000 sabe: as locadoras eram mais do que lugares pra alugar fita ou CD. Eram verdadeiros pontos de encontro da molecada. E quando o PlayStation 2 chegou com força, o cenário mudou — mas a magia ficou.
“Me transportei pra 2004…”
Era comum escutar frases assim. Porque 2004 não foi só o ano em que San Andreas explodiu — foi o ano em que milhares de jovens brasileiros descobriram o que era liberdade digital com um controle na mão.
A gente não tinha gráfico 4K, nem SSD, nem multiplayer global. Mas tinha o essencial: cadeira de plástico, memory card colado com durex e a adrenalina de disputar a vaga pra jogar a próxima hora no PS2 da locadora.
“Quase morava na locadora.” Quem nunca?
Amizade de verdade era feita no controle 2
Você não precisava marcar com ninguém no WhatsApp. Bastava aparecer na locadora no fim da tarde, e lá estavam seus amigos. E se o cara da locadora era firmeza, deixava você “ajudar a organizar os CDs” só pra ganhar uns 30 minutinhos de brinde. Quem viveu, viveu.
Jogava Winning Eleven com narração do Silvio Luiz, rodava GTA com os códigos decorados, fazia missão do Kratos enquanto alguém do seu lado gritava “vai por cima, mano, corta o bicho pelas costas!”. Era coletivo. Era comunidade.
E quando algum jogo travava no loading? Vinha a resenha. Teve gente que fez amizade pra vida toda ali, vendo alguém jogar Devil May Cry 3 enquanto esperava a vez.
Antes do PS2, o encantamento dos 8 e 16 bits
Os mais velhos ainda lembram da emoção de ver o Mega CD rodando uma intro em anime, da primeira vez que colocaram os olhos em Samurai Shodown 2, ou quando descobriram que Virtua Cop usava uma arma de verdade no fliperama.
Você não precisava nem jogar — só de ficar olhando já era um espetáculo. Assistir alguém passar de fase em Sonic, Earnest Evans ou Castlevania era uma aula não oficial de videogame. E o melhor: de graça.
“Chegava no fliperama cedo e só voltava à noite.” Essa frase resume o espírito de toda uma geração que não queria saber de TikTok — queria era zerar o Street Fighter II na ficha.
Quando o PS2 virou rei nas locadoras (e no coração da galera)

Veio o PS2 e, com ele, uma enxurrada de jogos que pareciam cinema na nossa cabeça. Resident Evil 4, Shadow of the Colossus, Burnout 3, Budokai Tenkaichi 3. Era tanto jogo bom que não dava pra escolher.
Tinha gente que ia só pra assistir. Tinha quem levava o próprio memory card com o nome escrito à caneta. Tinha até quem virava “estagiário da locadora” só pra jogar de graça.
E olha… não importa se hoje você tem um PS5 desbloqueado ou joga via emulador. Nada vai superar a sensação de sentar naquela cadeira torta, com o ventilador soprando poeira e o coração acelerado, porque era sua vez no controle.
“Cara, me emocionei de verdade…”
É isso. Esses testemunhos não são só depoimentos — são memórias coletivas que, de tão fortes, parecem ter acontecido ontem. Porque mesmo com todas as mudanças da tecnologia, a essência daquela época ainda vive em quem cresceu no meio da bagunça boa das locadoras.
Enquanto o mundo era um caos lá fora, ali dentro era só alegria. O PS2 era o herói silencioso das tardes de verão, das férias escolares, das amizades improvisadas e dos campeonatos sem troféu — mas com muita zoeira e respeito.
O que sobrou da era das locadoras?
Hoje, poucas resistem. A maioria virou mercado, padaria, ou loja de celular. Mas pra quem viveu, não importa. Porque as verdadeiras locadoras ainda existem dentro da gente. E toda vez que alguém liga um PS2, aperta “Start” e escuta aquele barulhinho clássico do boot… a viagem no tempo começa de novo.